segunda-feira, 14 de novembro de 2011

UM BRAÇO DE MULHER





Rubem Braga



Subi ao avião com indiferença, e como o dia não estava bonito, lancei apenas um olhar distraído a essa cidade do Rio de Janeiro e mergulhei na leitura de um jornal. Depois fiquei a olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na verdade, não estava no céu; pensava coisas da terra, minhas pobres, pequenas coisas. Uma aborrecida sonolência foi me dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse que "nós não podemos descer!". O avião já havia chegado a São Paulo, mas estava fazendo sua ronda dentro de um nevoeiro fechado, à espera de ordem para pousar. Procurei acalmar a senhora.


Ela estava tão aflita que embora fizesse frio se abanava com uma revista. Tentei convencê-la de que não devia se abanar, mas acabei achando que era melhor que o fizesse. Ela precisava fazer alguma coisa, e a única providência que aparentemente podia tomar naquele momento de medo era se abanar. Ofereci-lhe meu jornal dobrado, no lugar da revista, e ficou muito grata, como se acreditasse que, produzindo mais vento, adquirisse maior eficiência na sua luta contra a morte.


Gastei cerca de meia hora com a aflição daquela senhora. Notando que uma sua amiga estava em outra poltrona, ofereci-me para trocar de lugar, e ela aceitou. Mas esperei inutilmente que recolhesse as pernas para que eu pudesse sair de meu lugar junto à janela; acabou confessando que assim mesmo estava bem, e preferia ter um homem — "o senhor" — ao lado. Isto lisonjeou meu orgulho de cavalheiro: senti-me útil e responsável. Era por estar ali eu, um homem, que aquele avião não ousava cair. Havia certamente piloto e co-piloto e vários homens no avião. Mas eu era o homem ao lado, o homem visível, próximo, que ela podia tocar. E era nisso que ela confiava: nesse ser de casimira grossa, de gravata, de bigode, a cujo braço acabou se agarrando. Não era o meu braço que apertava, mas um braço de homem, ser de misteriosos atributos de força e proteção.


Chamei a aeromoça, que tentou acalmar a senhora com biscoitos, chicles, cafezinho, palavras de conforto, mão no ombro, algodão nos ouvidos, e uma voz suave e firme que às vezes continha uma leve repreensão e às vezes se entremeava de um sorriso que sem dúvida faz parte do regulamento da aeronáutica civil, o chamado sorriso para ocasiões de teto baixo.


Mas de que vale uma aeromoça? Ela não é muito convincente; é uma funcionária. A senhora evidentemente a considerava uma espécie de cúmplice do avião e da empresa e no fundo (pelo ressentimento com que reagia às suas palavras) responsável por aquele nevoeiro perigoso. A moça em uniforme estava sem dúvida lhe escondendo a verdade e dizendo palavras hipócritas para que ela se deixasse matar sem reagir.


A única pessoa de confiança era evidentemente eu: e aquela senhora, que no aeroporto tinha certo ar desdenhoso e solene, disse suas malcriações para a aeromoça e se agarrou definitivamente a mim. Animei-me então a pôr a minha mão direita sobre a sua mão, que me apertava o braço. Esse gesto de carinho protetor teve um efeito completo: ela deu um profundo suspiro de alívio, cerrou os olhos, pendeu a cabeça ligeiramente para o meu lado e ficou imóvel, quieta. Era claro que a minha mão a protegia contra tudo e contra todos, estava como adormecida.


O avião continuava a rodar monotonamente dentro de uma nuvem escura; quando ele dava um salto mais brusco, eu fornecia à pobre senhora uma garantia suplementar apertando ligeiramente a minha mão sobre a sua: isto sem dúvida lhe fazia bem.


Voltei a olhar tristemente pela vidraça; via a asa direita, um pouco levantada, no meio do nevoeiro. Como a senhora não me desse mais trabalho, e o tempo fosse passando, recomecei a pensar em mim mesmo, triste e fraco assunto.


E de repente me veio a idéia de que na verdade não podíamos ficar eternamente com aquele motor roncando no meio do nevoeiro - e de que eu podia morrer.


Estávamos há muito tempo sobre São Paulo. Talvez chovesse lá embaixo; de qualquer modo a grande cidade, invisível e tão próxima, vivia sua vida indiferente àquele ridículo grupo de homens e mulheres presos dentro de um avião, ali no alto. Pensei em São Paulo e no rapaz de vinte anos que chegou com trinta mil-réis no bolso uma noite e saiu andando pelo antigo viaduto do Chá, sem conhecer uma só pessoa na cidade estranha. Nem aquele velho viaduto existe mais, e o aventuroso rapaz de vinte anos, calado e lírico, é um triste senhor que olha o nevoeiro e pensa na morte.


Outras lembranças me vieram, e me ocorreu que na hora da morte, segundo dizem, a gente se lembra de uma porção de coisas antigas, doces ou tristes. Mas a visão monótona daquela asa no meio da nuvem me dava um torpor, e não pensei mais nada. Era como se o mundo atrás daquele nevoeiro não existisse mais, e por isto pouco me importava morrer. Talvez fosse até bom sentir um choque brutal e tudo se acabar. A morte devia ser aquilo mesmo, um nevoeiro imenso, sem cor, sem forma, para sempre.


Senti prazer em pensar que agora não haveria mais nada, que não seria mais preciso sentir, nem reagir, nem providenciar, nem me torturar; que todas as coisas e criaturas que tinham poder sobre mim e mandavam na minha alegria ou na minha aflição haviam-se apagado e dissolvido naquele mundo de nevoeiro.


A senhora sobressaltou-se de repente e muito aflita começou a me fazer perguntas. O avião estava descendo mais e mais e entretanto não se conseguia enxergar coisa alguma. O motor parecia estar com um som diferente: podia ser aquele o último e desesperado tredo ronco do minuto antes de morrer arrebentado e retorcido. A senhora estendeu o braço direito, segurando 0 encosto da poltrona da frente, e então me dei conta de que aquela mulher de cara um pouco magra e dura tinha um belo braço, harmonioso e musculado.


Fiquei a olhá-lo devagar, desde o ombro forte e suave até as mãos de dedos longos. E me veio uma saudade extraordinária da terra, da beleza humana, da empolgante e longa tonteira do amor. Eu não queria mais morrer, e a idéia da morte me pareceu tão errada, tão feia, tão absurda, que me sobressaltei. A morte era uma coisa cinzenta, escura, sem a graça, sem a delicadeza e o calor, a força macia de um braço ou de uma coxa, a suave irradiação da pele de um corpo de mulher moça.


Mãos, cabelos, corpo, músculos, seios, extraordinário milagre de coisas suaves e sensíveis, tépidas, feitas para serem infinitamente amadas. Toda a fascinação da vida me golpeou, uma tão profunda delícia e gosto de viver uma tão ardente e comovida saudade, que retesei os músculos do corpo, estiquei as pernas, senti um leve ardor nos olhos. Não devia morrer! Aquele meu torpor de segundos atrás pareceu-me de súbito uma coisa doentia, viciosa, e ergui a cabeça, olhei em volta, para os outros passageiros, como se me dispusesse afinal a tomar alguma providência.


Meu gesto pareceu inquietar a senhora. Mas olhando novamente para a vidraça adivinhei casas, um quadrado verde, um pedaço de terra avermelhada, através de um véu de neblina mais rala. Foi uma visão rápida, logo perdida no nevoeiro denso, mas me deu uma certeza profunda de que estávamos salvos porque a terra existia, não era um sonho distante, o mundo não era apenas nevoeiro e havia realmente tudo o que há, casas, árvores, pessoas, chão, o bom chão sólido, imóvel, onde se pode deitar, onde se pode dormir seguro e em todo o sossego, onde um homem pode premer o corpo de uma mulher para amá-la com força, com toda sua fúria de prazer e todos os seus sentidos, com apoio no mundo.


No aeroporto, quando esperava a bagagem, vi de perto a minha vizinha de poltrona. Estava com um senhor de óculos, que, com um talão de despacho na mão, pedia que lhe entregassem a maleta. Ela disse alguma coisa a esse homem, e ele se aproximou de mim com um olhar inquiridor que tentava ser cordial. Estivera muito tempo esperando; a princípio disseram que o avião ia descer logo, era questão de ficar livre a pista; depois alguém anunciara que todos os aviões tinham recebido ordem de pousar em Campinas ou em outro campo; e imaginava quanto incômodo me dera sua senhora, sempre muito nervosa. "Ora, não senhor." Ele se despediu sem me estender a mão, como se, com aqueles agradecimentos, que fora constrangido pelas circunstâncias a fazer, acabasse de cumprir uma formalidade desagradável com relação a um estranho - que devia permanecer um estranho.


Um estranho — e de certo ponto de vista um intruso, foi assim que me senti perante aquele homem de cara desagradável. Tive a impressão de que de certo modo o traíra, e de que ele o sentia.


Quando se retiravam, a senhora me deu um pequeno sorriso. Tenho uma tendência romântica a imaginar coisas, e imaginei que ela teve o cuidado de me sorrir quando o homem não podia notá-lo, um sorriso sem o visto marital, vagamente cúmplice. Certamente nunca mais a verei, nem o espero. Mas o seu belo braço foi um instante para mim a própria imagem da vida, e não o esquecerei depressa.


O texto acima foi publicado no livro “Os melhores contos – Rubem Braga”, seleção de Davi Arrigucci Jr., Global Editora – São Paulo, e selecionado por Ítalo Moriconi para compor o livro “Os cem melhores contos brasileiros do século”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro, 2000, pág. 169.



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A GENTE

A gente é um bocado de gente que passou por nossa vida.
 Tudo que vivi me transformou no que sou hoje, como um metal bruto forjado nos fogos da vida
As experiências que nos moldam nos deixam substâncias de vida que carregamos como parte genética do que somos e que vão estar nos nossos filhos, nossos netos, os nossos que seguem quando a gente fica
Quando se está no meio do processo amaldiçoamos o fogo, o que trás dor sempre é indesejável, claro... Quem dera ser formado por plumas e flores sem espinhos, mas o diabo é que a vida já foi configurada e ela é como uma mata, uma floresta que precisamos atravessar, com todas as urtigas, espinhos, pântanos e tal e tal... Feliz do que encontra flores... É, de vez em quando elas aparecem e talvez seja por que passamos por tanto pântano, tanto espinho que a beleza delas faz sentido.

Robson Barros

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

RECLAMES DE UM POBRE VELHO

Eu sou carta e construção
Fumaça que se desfaz
Gelo no vulcão em erupção
Vento na parede, lágrima na boca que bebe
O baralho reunido e ás de copa sob as botas
O som que não chegou aos ouvidos deu lugar ao zumbido
Eu olho pra o mar e seco em gota só sob o sol alto
Sinto o vento de fora e ele é frio
O fora é meu lugar, enfim tenho casa
Sou folha que arrastada pelo vento enxerga de longe a árvore dançar

Minha raiz ficou e eu fui
Estou indo solto e sem alimento e a seca bebendo toda água que tenho
Riso enferrujado, cor sem tinta e silencio enforcador

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

CHUVA DE OUTRORA

Aqui vai uma crônica do gigante cronista Milton Dias. Cearense de Ipu. Não é tempo de chuva, mas revivi meus banhos na periferia (representante do interior na cidade) de Fortaleza lendo a crônica sempre inspirada do Milton Dias e tenho o prazer de sugerir sua leitura, se deliciem, quem for nordestino sabe bem o cenário mágico que achuva cria.

"Se a crônica é um gênero literário que no Brasil adquiriu foros de literatura maior, exercido por grandes nomes, de Machado de Assis a Ruben Braga, não houve quem a cultivasse com mais competência no exato limite de sua graça e finura, na medida perfeita de sua irreverência e de sua emoção do que Milton Dias" Jorge Amado



Eu acredito muito no nosso profeta Roque Macedo, mas estou pedindo a Deus que ele se tenha enganado, pela primeira vez que aquela previsão de chuva até setembro, não passe duma traição que o suor do sovaco do peba lhe tenha feito. Apesar de ser perdido por água, como todo bom cearense, apesar de não negar que poucas coisa me alegram tanto o coração como o nascente anunciando chuva, o tempo se encapuzando, o sol ausente, a temperatuta caindo, o mundo se molhando e a terra preparando o ventre para o milagre da fecundação.

Antigamnete era assim, nos tempos d'eu menino, no sertão: a chuva vinha sempre à tarde, tinha um prefácio, cumpria todo um ritual, as nuvens se formavam lentamente, se juntavam, se avolumavam como exército que se arregimenta e parte depois para o ataque. Tinha-se direita a trovão e a relâmpago, às vezes até a perigo de algum raio, como aquele que caiu na casa do meu avô - e respeitou todas as pessoas, quebrou o espelho grande do "toilette" antigo, cortou a cruz do alto do oratório, derrubou uma porta e imolou um bezerro, no quintal. O que foi considerado um milagre, porque todos ali eram de muita oraçãoe de muito temor a Deus.

E as gentes também se preparavam, punham os potes em posição de espera, debaixo das bicas, e os candidatos ao banho metiam o calção, feito de velhas calças cumpridas com as pernas cortadas à altura do joelho.
Chega a primeira mão de chuva, não se corre logo ao banho - havia que esperar, prudentemente, que as telhas esfriassem, limpassem. Só então se ia receber na cabeça, como renovação do batismo, o impacto líquido que os jacarés de fladres mandavam de cima dos parapeitos e dos beirais mais altos, a boca aberta de dentes em forma de serras pontiagudas. Vomitando violantamente a água que estalava em baixo barulhenta e copiosa.

Depois, no meio da rua, ia-se receber no corpo, já tremendo de frio, a chicotada das bétegas - e em seguida a batalha de areia começava. Muito frequentemente, no final, corria-se ao rio próximo, a desafiar a correnteza, pulando dos tranpolins naturais, feitos de galhos de cajazeiras que pareciam plantadas a propósito na beira dos rios.
Do lado da praça do mercado, pelos quarteirões do comércio, quando começava a chover, saíam das bodegas gritos de alegria que a pinga insinuava - e dentro de alguns minutos, a cidade inteira saia a festejar o tempo - homens e crianças disputando as bicas melhores, as mais conhecidas, como aquela da loja do Seu Zécarneiro ou a da casa do Seu Guilherme, que eram famosas.   

As mulheres não vinham a rua: pudicamente se limitavam aos banhos nos terraços internos - e muitas delas, por entre as janelas entreabertas, de olhar esperto e curioso, testemunhavam a alegria dos banhistas entre palavrórios e gargalhadas, tão próximo da alegria com que os homens primitivos acolhiam a mensagem do deus das águas, que reverenciavam e agradeciam em oração.

Terminada a chuva, a tarde se fazia muito azul, lavada, repousante e bela como as tardes que vinham nas reproduções das folhinhas de parede. Era o tempo que sino, pastor zeloso do comportado rebanho, chamava as ovelhas de Deus para a benção, o cura assumia o altar, as moças, vestidas de branco, subiam ao coro da igreja e, acompanhadas pela minha tia Abigail ao harmônico, cantavam o Tantum Ergo.

A noite caia quase de repente, um frio bom, seco e constante recolhia o povo. De dentro das casas grandes saíam as notas que os pianos derramavam através das venesianas - e velhas valsas bailavam solitárias na pracinha, contando estórias de amor que foi e não voltou. Assim como as águas dos jacarés que não voltam nunca. E os casais com diploma de casamente passado na igreja, cumpriam a determinação bíblica da multiplicação da espécie.

Os moços trêfegos, indóceis, corriam para as mulheres perdidas, atravessavam as poças do caminho, o trilho do trem - e o quarteirão das madalenas se iluminavam com as luz mortiça de parcas lâmpadas (versão humilde dos lampiões das grandes cidades) as portas se abriam com convites, para o gesto eterno, universal de acolhimento das degradadas, degradadas filhas de Eva. Que também eram filhas de Deus. Enquanto a cidade preconceituosa fingia ignorar que os meninos de boa família estavam em transa com as cunhãs.

Debaixo das sacadas senhoriais, havia sempre algum menestrel intrépido, tirando um pouco sobre o melancólico, infrentando a incerteza do tempo, cantando desventuras e esperanças à janela das moças casadouras, na melhor linha medieval. E as cordas dos violões soluçavam penas de amor e o silencio ampliava a voz do seresteiro, que morria depois pelos becos sombrios.

Chico, o poeta municipal, guardador da noite, habitava sozinho o mistério das ruas desertas, as pontas de rua, dizendo em alta voz, versos que lembravam Augustos dos Anjos, baladas que falavam das tristezas em que naufragara a alma sofrida, tresmalhada. Era tranquilo e bom como os boêmios verdadeiros, como as pombinhas mansas do outro poeta.

As vozes da noite silenciavam nas dobras da madrugada e a gente toda, de rede branca armada, sonhava sonhos desambiciosos, no aconchego de alvos lençois que cheiravam a jasmins e a pureza.
É isto aí: ficou claro que sou perdido por tempo de chuva, que me devolve ao meu antigamente morto, transformado em patrimônio de lembraças. Mas chuvas em termos, meu profeta Roque. Chuva até setembro, não. Ah, não é direito.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

POSSÍVEL DESFECHO DE UM LIVRO EM GESTAÇÃO

A mão quente e enrugada que não vou segurar quando o céu vermelho se pinta e o sol se esconde no infinito... As risadas das crianças correndo na sala que não irei ouvir... As histórias que não irei lhes contar... Os filhos que não irei abraçar... Os cheiros que não irei sentir... As dores que não chegarão... As alegrias que não me farão saltar... Os medos que não me farão tremer... O colo onde não repousarei...  As músicas que não encontrarão melodia... Os dias que se despedirão sem as vozes que geraria... As flores que não encontrarão tua respiração...  As pegadas que não serão marcadas na areia da praia...
Os pássaros que não terão espectadores apaixonados... As águas que não dançaram com nossos corpos... Os caminhos se sentirão sozinhos... Os olhares se perderão em outros... Minha voz não sonorizará teus ouvidos... A lua não mais me olhará...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

RUA

O olho da rua me vê com seus olhos vermelhos
E me convida pra dançar agarrado com o vento

A poeira que lhe instiga e irrita
O vento que sopra sobre as fitas
O menino que corre atrás da raia

A rua é espectadora do moribundo, do vagabundo
Do mundo é a própria porta
Ferrolhos que se entortam e permitem a entrada de todos
É palco dos horrores e dos amores
Silenciosa moça parada, esperando e se despedindo
Dos que por ela passam

Morrendo com os que morrem
Vivendo com os que vivem
Dançando com os que dançam

Correndo com os que correm
Chorando com os que choram
Cantando com os que cantam
Seguindo por dentro dela a rua roendo as velas
Que se gastam rumo aos destinos

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

NOS TEUS OLHOS LUA


O  negro dos teus olhos atentos
Tem a fome do silêncio, o cheiro de águas, o banho salgado, o veneno...
A lua que brilha e faz o peso sumir
Levito, tenho medo de subir
Meu corpo pesado com todas as cargas se banha com a luz dos teus olhos lua
Pareço criança, sinto cheiro de esperança e garganta ardendo
O homem que some, o mundo que surge
A noite que brilha com luz gelada
Mas tenho o abrigo esquentado dos teus lábios
Vôo no cheiro que sai dos teus cabelos


Nado na tua boca molhada
Canso percorrendo teu corpo
Bebo o suor e fico morto
Acalento nos teus olhos, madrugada...
(Robson Barros)